primavera sound em converseta - pt. III
Dia 29, o drone. Mais um diazinho, mais uma voltinha pelo Parc del Fòrum. E mais uma banda que, há muito, ambicionava ver ao vivo: os Sunn 0))).
Ao contrário do anterior, o início de dia foi esplêndido, com Bat For Lashes a abrir as amenidades (porque Bat for Lashes e hostilidades são duas coisas que não encaixam) no palco do mijo de burro (para os que já não estão recordados, refiro-me à Estrella Damm). Uma actuação belíssima, que percorreu os melhores temas tanto de "Two Suns", como de "Fur and Gold" e que seguiu à risca a exímia execução e magnífica prestação vocal de Natasha Khan, patentes nestes dois álbuns (para os amigos que perguntaram: sim, a voz dela é igualzinha. Não há aqui microfones mágicos nem milagres de (pós-)produção), que não só teve um efeito relaxante, como também foi um recarregar de baterias para as longas horas de concertos que ainda iríamos enfrentar. Para ser perfeito, perfeito só faltou mesmo ter tido lugar no auditório do fórum.
Posto isto, uma corridinha até ao palco Pitchfork para uma espreitadela às Vivian Girls. Raparigas desenvoltas, perfeitamente enquadradas no ambiente de Barcelona ao final da tarde, que nos proporcionaram alguns momentos de boa disposição com o seu punk-rock/power-pop solarengo e despreocupado. Agradaram, mas, ainda assim, não supreenderam.
Terminada a actuação das Vivianes, tínhamos algum tempo livre, já que o próximo ponto de interesse era só às 21h20. Tentámos aproveitá-lo da melhor forma, oferecendo alguma da nossa atenção a outros projectos que, nesse interim, também davam um ar de sua graça (ou falta dela) pelos vários palcos ao ar livre do fórum (este ano não chegámos a assistir a nenhum dos concertos no auditório). A saber: Spiritualized no palco Rockdelux (ainda que não seja a minha praia, pareceu-me um bom concerto. Com certeza terá feito as delícias dos fãs) e The Pains of Being Pure at Heart no Pitchfork (não é que o Jay Reatard tem razão? Estes fulanos são mesmo uma seca! Como é que algo tão genérico, tão mais-do-mesmo, tão sensaborão é adulado por tanta gente é, para mim, um mistério. Ao vivo são apenas uma extensão da sonolência provocada em disco).
Finalmente, eis que chegava a hora de regressar ao palco mijo de burro, para marcar lugar junto à grade para a prestação dos Art Brut. O que, cedo perceberíamos, seria uma opção acertadíssima. Se alguma dúvida restasse, este concerto foi mais uma confirmação de que, da vaga de revivalismo rock n' roll, os Brutes são das poucas bandas que continuam relevantes. Já para não dizer que foi um dos, se não mesmo o melhor concerto deste festival em termos de empatia gerada com o público. Muito graças a Eddie Argos, um frontman em toda a linha, que, com as suas estórias e estorietas, e sem se armar ao pingarelho, conseguiu ter piada (muita piada!), bem como cativar e divertir todos os presentes. Nada menos que grande!
Infelizmente, não pudemos ficar até o final, porque o apelo do drone já se fazia sentir em nossos corações e as expectativas eram elevadíssimas. Dez minutos antes da hora marcada e já nos encontrávamos na grade do palco ATP.
A reverência pelos Sunn 0))) assim o exigia. Pelas 22h30, mais minuto menos minuto, Stephen O'Malley e Greg Anderson iniciaram a apresentação de "The GrimmRobe Demos", numa performance majestática, teatral e poderosíssima, como é, aliás, apanágio da banda, que foi tudo aquilo que esperava e mais ainda. Um momento perfeito, em que tudo se conjugou de forma harmoniosa: a hora do concerto (nem demasiado tarde, nem demasiado cedo), o coberto da noite, o palco (mesmo sendo a céu aberto, as condições eram as ideais. Já para não dizer que um palco ao ar livre impediu a intoxicação generalizada pelas quantidades monstruosas de fumo libertadas), a própria actuação em si. E o transe induzido pelo drone foi plenamente atingido. Se há motivos de queixa, prender-se-ão apenas com a curta duração do concerto: cerca de 40 minutos, quando "GrimmRobe..." tem, na realidade, mais de uma hora. Ouvi e li também algumas queixas relativamente ao baixo volume de som (o que acho bastante plausível, já que, mesmo na linha da frente, este era bastante suportável), coisa facilmente resolvível, bastando para isso colocar o nosso corpo, tímpanos em particular (embora a reverberação nas restantes partes do nosso organismo também ajudasse muito à festa, possibilitando o chamado "ouvir sentindo"), bem pertinho do PA. Seja como for, antes assim do que como em Boris e Om no ano passado.
Terminado o momento alto do dia, era altura de dar uma espreitadela aos Throwing Muses. Espreitadela apenas, e lá do alto da escadaria-anfiteatro, porque a multidão que transbordava da envolvente ao palco Rockdelux mais não permitiu. Mas bastaram alguns instantes da voz cristalina de Kristin Hersh para abrir um sorriso de orelha-a-orelha na minha face. Como as coisas por ali estavam muito 'sardinha em lata' para o nosso gosto, resolvemos seguir em frente, rumo ao palco Pitchfork e aos The Mae Shi. Actuação espevitada e animada, de um mui curioso dance-punk, que ainda sacou uns belos pézinhos de dança da minha parte. Pecou apenas pelo som demasiado estridente.
Mais um que não vimos até ao final, optando antes por uma deslocação até ao palco ATP, onde os australianos The Drones tinham já dado início à sua prestação. Ao contrário do que o nome faz supor, os The Drones não são discípulos do drone (era demasiado óbvio...). São, isso sim, indie rock. E do bom, com alguns apontamentos noise, psicadélicos, ou mesmo folk. Bom, mas soube a pouco, uma vez que já tínhamos encontro marcado com o palco Ray-Ban, e com os Fucked Up. Sobre estes não me vou alongar muito, porque já aqui tinha escrito sobre a sua actuação na última edição Supersonic e, relativamente a esta, há muito pouco a acrescentar. Foi, mais uma vez, a puta da loucura. Uma verdadeira festa, que qualquer pessoa deveria presenciar, pelo menos uma vez na sua vida (os que leram o meu relato do Supersonic, sabem do que falo; os outros, poderão lê-lo aqui).
Regressados ao palco Pitchfork pela n-ésima vez, era altura de Dan Deacon e do seu Ensemble nos mostrarem o que valem. O último disco de Deacon, "Bromst", agradou-me sobremaneira, mas confesso que a sua actuação ao vivo poderia ter corrido melhor. Tudo porque a sua performance implica uma grande interactividade por parte do público, público esse que, nesta situação em particular, não estaria muito para aí virado. Ou porque não estava para entrar em joguinhos ou danças comunitárias, estando ali apenas para assitir a um concerto, ou porque, pura e simplesmente, era de compreensão mais lenta. Independentemente dos motivos, o facto é que a coisa saiu meio furada ao Deacon. Os longos e intermináveis minutos que ele passou a explicar, quase lutando contra moinhos de vento, aquilo que pretendia do público, fizeram com que desistissemos de esperar que eles tocassem mais alguma coisa, e zarpássemos para a próxima paragem.
Na rifa couberam-nos os Shellac, senhores que nos tinham deixado muitas e boas recordações. Esperávamos que eles replicassem a bela experiência de há um ano atrás e, de certa forma, foi o que tivemos. Apresentando um set muito idêntico ao do ano anterior, a banda pareceu estar ali apenas a cumprir calendário. Não sei se por sugestão ou se por já ser a segunda vez que os via ao vivo (faltando-lhe, por isso, a surpresa da primeira), a verdade é que me pareceu uma actuação sem chama, com Albini e companhia a debitarem as suas músicas pachorrenta e maquinalmente, como quem desfia um rosário. Aguardo uma terceira oportunidade para tirar as teimas.
Encontrava-se, assim, a noite quase finda. Tempo ainda para uma breve passagem pelo palco Ray-Ban, para um cheirinho de A Certain Ratio, numa prestação que, muito sinceramente, não aqueceu nem arrefeceu. E terminava aqui, de forma algo circunspecta, o nosso segundo dia de Parc del Fòrum.
Top 3 do dia:
1. Sunn 0))) (e não me arrependo nada de ter perdido Crystal Antlers!)
2. Art Brut
3. Bat for Lashes
(Os Fucked Up só não entram no top porque já os tinha visto ao vivo, e sou grande partidária do "dar lugar aos novos")
No próximo capítulo: Dia 30, o psych.
Ao contrário do anterior, o início de dia foi esplêndido, com Bat For Lashes a abrir as amenidades (porque Bat for Lashes e hostilidades são duas coisas que não encaixam) no palco do mijo de burro (para os que já não estão recordados, refiro-me à Estrella Damm). Uma actuação belíssima, que percorreu os melhores temas tanto de "Two Suns", como de "Fur and Gold" e que seguiu à risca a exímia execução e magnífica prestação vocal de Natasha Khan, patentes nestes dois álbuns (para os amigos que perguntaram: sim, a voz dela é igualzinha. Não há aqui microfones mágicos nem milagres de (pós-)produção), que não só teve um efeito relaxante, como também foi um recarregar de baterias para as longas horas de concertos que ainda iríamos enfrentar. Para ser perfeito, perfeito só faltou mesmo ter tido lugar no auditório do fórum.
Posto isto, uma corridinha até ao palco Pitchfork para uma espreitadela às Vivian Girls. Raparigas desenvoltas, perfeitamente enquadradas no ambiente de Barcelona ao final da tarde, que nos proporcionaram alguns momentos de boa disposição com o seu punk-rock/power-pop solarengo e despreocupado. Agradaram, mas, ainda assim, não supreenderam.
Terminada a actuação das Vivianes, tínhamos algum tempo livre, já que o próximo ponto de interesse era só às 21h20. Tentámos aproveitá-lo da melhor forma, oferecendo alguma da nossa atenção a outros projectos que, nesse interim, também davam um ar de sua graça (ou falta dela) pelos vários palcos ao ar livre do fórum (este ano não chegámos a assistir a nenhum dos concertos no auditório). A saber: Spiritualized no palco Rockdelux (ainda que não seja a minha praia, pareceu-me um bom concerto. Com certeza terá feito as delícias dos fãs) e The Pains of Being Pure at Heart no Pitchfork (não é que o Jay Reatard tem razão? Estes fulanos são mesmo uma seca! Como é que algo tão genérico, tão mais-do-mesmo, tão sensaborão é adulado por tanta gente é, para mim, um mistério. Ao vivo são apenas uma extensão da sonolência provocada em disco).
Finalmente, eis que chegava a hora de regressar ao palco mijo de burro, para marcar lugar junto à grade para a prestação dos Art Brut. O que, cedo perceberíamos, seria uma opção acertadíssima. Se alguma dúvida restasse, este concerto foi mais uma confirmação de que, da vaga de revivalismo rock n' roll, os Brutes são das poucas bandas que continuam relevantes. Já para não dizer que foi um dos, se não mesmo o melhor concerto deste festival em termos de empatia gerada com o público. Muito graças a Eddie Argos, um frontman em toda a linha, que, com as suas estórias e estorietas, e sem se armar ao pingarelho, conseguiu ter piada (muita piada!), bem como cativar e divertir todos os presentes. Nada menos que grande!
Infelizmente, não pudemos ficar até o final, porque o apelo do drone já se fazia sentir em nossos corações e as expectativas eram elevadíssimas. Dez minutos antes da hora marcada e já nos encontrávamos na grade do palco ATP.
A reverência pelos Sunn 0))) assim o exigia. Pelas 22h30, mais minuto menos minuto, Stephen O'Malley e Greg Anderson iniciaram a apresentação de "The GrimmRobe Demos", numa performance majestática, teatral e poderosíssima, como é, aliás, apanágio da banda, que foi tudo aquilo que esperava e mais ainda. Um momento perfeito, em que tudo se conjugou de forma harmoniosa: a hora do concerto (nem demasiado tarde, nem demasiado cedo), o coberto da noite, o palco (mesmo sendo a céu aberto, as condições eram as ideais. Já para não dizer que um palco ao ar livre impediu a intoxicação generalizada pelas quantidades monstruosas de fumo libertadas), a própria actuação em si. E o transe induzido pelo drone foi plenamente atingido. Se há motivos de queixa, prender-se-ão apenas com a curta duração do concerto: cerca de 40 minutos, quando "GrimmRobe..." tem, na realidade, mais de uma hora. Ouvi e li também algumas queixas relativamente ao baixo volume de som (o que acho bastante plausível, já que, mesmo na linha da frente, este era bastante suportável), coisa facilmente resolvível, bastando para isso colocar o nosso corpo, tímpanos em particular (embora a reverberação nas restantes partes do nosso organismo também ajudasse muito à festa, possibilitando o chamado "ouvir sentindo"), bem pertinho do PA. Seja como for, antes assim do que como em Boris e Om no ano passado.
Terminado o momento alto do dia, era altura de dar uma espreitadela aos Throwing Muses. Espreitadela apenas, e lá do alto da escadaria-anfiteatro, porque a multidão que transbordava da envolvente ao palco Rockdelux mais não permitiu. Mas bastaram alguns instantes da voz cristalina de Kristin Hersh para abrir um sorriso de orelha-a-orelha na minha face. Como as coisas por ali estavam muito 'sardinha em lata' para o nosso gosto, resolvemos seguir em frente, rumo ao palco Pitchfork e aos The Mae Shi. Actuação espevitada e animada, de um mui curioso dance-punk, que ainda sacou uns belos pézinhos de dança da minha parte. Pecou apenas pelo som demasiado estridente.
Mais um que não vimos até ao final, optando antes por uma deslocação até ao palco ATP, onde os australianos The Drones tinham já dado início à sua prestação. Ao contrário do que o nome faz supor, os The Drones não são discípulos do drone (era demasiado óbvio...). São, isso sim, indie rock. E do bom, com alguns apontamentos noise, psicadélicos, ou mesmo folk. Bom, mas soube a pouco, uma vez que já tínhamos encontro marcado com o palco Ray-Ban, e com os Fucked Up. Sobre estes não me vou alongar muito, porque já aqui tinha escrito sobre a sua actuação na última edição Supersonic e, relativamente a esta, há muito pouco a acrescentar. Foi, mais uma vez, a puta da loucura. Uma verdadeira festa, que qualquer pessoa deveria presenciar, pelo menos uma vez na sua vida (os que leram o meu relato do Supersonic, sabem do que falo; os outros, poderão lê-lo aqui).
Regressados ao palco Pitchfork pela n-ésima vez, era altura de Dan Deacon e do seu Ensemble nos mostrarem o que valem. O último disco de Deacon, "Bromst", agradou-me sobremaneira, mas confesso que a sua actuação ao vivo poderia ter corrido melhor. Tudo porque a sua performance implica uma grande interactividade por parte do público, público esse que, nesta situação em particular, não estaria muito para aí virado. Ou porque não estava para entrar em joguinhos ou danças comunitárias, estando ali apenas para assitir a um concerto, ou porque, pura e simplesmente, era de compreensão mais lenta. Independentemente dos motivos, o facto é que a coisa saiu meio furada ao Deacon. Os longos e intermináveis minutos que ele passou a explicar, quase lutando contra moinhos de vento, aquilo que pretendia do público, fizeram com que desistissemos de esperar que eles tocassem mais alguma coisa, e zarpássemos para a próxima paragem.
Na rifa couberam-nos os Shellac, senhores que nos tinham deixado muitas e boas recordações. Esperávamos que eles replicassem a bela experiência de há um ano atrás e, de certa forma, foi o que tivemos. Apresentando um set muito idêntico ao do ano anterior, a banda pareceu estar ali apenas a cumprir calendário. Não sei se por sugestão ou se por já ser a segunda vez que os via ao vivo (faltando-lhe, por isso, a surpresa da primeira), a verdade é que me pareceu uma actuação sem chama, com Albini e companhia a debitarem as suas músicas pachorrenta e maquinalmente, como quem desfia um rosário. Aguardo uma terceira oportunidade para tirar as teimas.
Encontrava-se, assim, a noite quase finda. Tempo ainda para uma breve passagem pelo palco Ray-Ban, para um cheirinho de A Certain Ratio, numa prestação que, muito sinceramente, não aqueceu nem arrefeceu. E terminava aqui, de forma algo circunspecta, o nosso segundo dia de Parc del Fòrum.
Top 3 do dia:
1. Sunn 0))) (e não me arrependo nada de ter perdido Crystal Antlers!)
2. Art Brut
3. Bat for Lashes
(Os Fucked Up só não entram no top porque já os tinha visto ao vivo, e sou grande partidária do "dar lugar aos novos")
No próximo capítulo: Dia 30, o psych.