feira da ladra #1
Penso que todos concordarão comigo quando digo que há poucas coisas tão gratificantes como comprar discos a preços inversamente proporcionais à sua qualidade. Falo de descobrir aquelas pequenas pérolas perdidas nos esconsos das prateleiras de saldos, promoções ou segundas-mãos. Tesouros escondidos, regra geral, no meio do lixo, que passam despercebidos aos mais desatentos, mas que fazem o verdadeiro conhecedor ronronar de contentamento.
Mas o que terão todos estes discos em comum? Para além do preço extremamente simpático, requintada qualidade e o não serem um objecto de consumo massificado, quase nada. Vai daí, eu que gosto de relacionar coisas que não têm nenhuma relação particular entre elas, resolvi criar esta nova rubrica como desculpa para tecer algumas breves considerações acerca das pechinchas que tenho encontrado durante as minhas habituais peregrinações a diversas lojas de discos de Portugal e arredores. Para o efeito, apropriei-me do nome dessa mítica instituição alfacinha que é a Feira da Ladra, onde aqui há uns anos se encontravam belíssimos discos a preços de amigo, mas que, como muitas outras míticas instituições alfacinhas, tem vindo a decair consideravelmente nos últimos tempos.
Começo esta série de crónicas com quatro discos que adquiri recentemente na secção de usados da Carbono de Lisboa.
psi - "Artificially Retarded Soul Care Operators" (2005, Evolving Ear). Já comprei discos porque um dos elementos da banda era também membro da banda tal. Já comprei discos porque a capa era porreirinha. Mas confesso que ainda nunca tinha comprado um disco porque o design da capa era do membro da banda tal. Foi o que aconteceu com estes psi (leia-se peeesseye). Aliás, o que me chamou a atenção neste disco foi mesmo a capa, que gritava Stephen O'Malley. "Uma coisa em que o SOMA mete o dedo", pensei eu "não pode ser má... E por 2,50€ também não há muito que saber...". Pensei bem, porque a coisa não é nada má. Muito pelo contrário. Contudo, não é um disco para ouvir em qualquer ocasião. A fórmula ruídos sintéticos e/ou ambientais avulsos/silêncio/mais um bocadinho de ruído/vocalizações com uma camada de efeitos à la filme gore de série B, requer uma determinada predisposição para ser plenamente interiorizada.
Skullflower - "IIIrd Gatekeeper" (2007, Crucial Blast). Os Skullflower são uma das bandas seminais do noise de pendor monolítico. Quanto a isso julgo que estamos todos esclarecidos. Tal facto ganha especial relevância numa altura em que o nome sunn 0))) anda nas bocas do mundo - fica sempre bem conhecermos ou pouco da história por detrás de qualquer fenómeno, musical e não só, para não andarmos a fazer figuras alarves.
Diz-se por aí que este "IIIrd Gatekeeper", originalmente lançado em 1992 pela HeadDirt (editora fundada por Justin Broadrick), é um dos álbuns mais emblemáticos da banda. Eu, como não tenho ponto de comparação, não confirmo nem desminto. Apenas posso afirmar que, a julgar por esta amostra, os Skullflower são merecedores dignos do estatuto quase-divino que lhes é atribuído.
Diz-se ainda que, devido a esse mesmo estatuto e a tiragens reduzidíssimas, os primeiros discos da banda são muito difíceis de encontar. Quanto a isso, estas reedições recentes ajudam. O preço de 7,50€ também.
Todd - "Comes to Your House" (2005, Southern). Os Todd enquadram-se naquela categoria de bandas por mim denominada "carro de assalto sonoro". Aquela espécie particular de música que nos ataca quando pensamos que tudo irá correr bem, qual Wile E. Coyote a ser esborrachado por uma bigorna da Acme Corp, que nos dá um arraial de porrada auditivo e nos tritura ossos e entranhas, deixando-nos em KO técnico, de dentes quebrados, olhos negros e nariz a sangrar, mas com uma inevitável sensação de satisfação plena, tal foi a descarga de adrenalina e endorfinas. E é assim que eu gosto de uma boa porção da minha música: violenta para o tímpano, sem concessões e directa ao assunto.
Haja vontade de apanhar uma boa tareia sonora e mais álbuns da discografia dos Todd a este preço!
Witch - "Witch" (2006, Tee Pee). Já há algum tempo que andava a namorar este disco de estreia do projecto em que J. Mascis dá azo à sua faceta mais stoner nos usados da Carbono. Ainda bem que fui adiando a compra, uma vez que tive direito a um desconto adicional de 2,50€ aos costumeiros 10€.
Quanto a mim, este "Witch" é consideravelmente mais estimulante e pesadinho que "Paralyzed", o seu sucessor, que adquiri em idêntica situação. A ver vamos como se comportam no futuro, esperando que não se confirme a rota descendente.
Mas o que terão todos estes discos em comum? Para além do preço extremamente simpático, requintada qualidade e o não serem um objecto de consumo massificado, quase nada. Vai daí, eu que gosto de relacionar coisas que não têm nenhuma relação particular entre elas, resolvi criar esta nova rubrica como desculpa para tecer algumas breves considerações acerca das pechinchas que tenho encontrado durante as minhas habituais peregrinações a diversas lojas de discos de Portugal e arredores. Para o efeito, apropriei-me do nome dessa mítica instituição alfacinha que é a Feira da Ladra, onde aqui há uns anos se encontravam belíssimos discos a preços de amigo, mas que, como muitas outras míticas instituições alfacinhas, tem vindo a decair consideravelmente nos últimos tempos.
Começo esta série de crónicas com quatro discos que adquiri recentemente na secção de usados da Carbono de Lisboa.
psi - "Artificially Retarded Soul Care Operators" (2005, Evolving Ear). Já comprei discos porque um dos elementos da banda era também membro da banda tal. Já comprei discos porque a capa era porreirinha. Mas confesso que ainda nunca tinha comprado um disco porque o design da capa era do membro da banda tal. Foi o que aconteceu com estes psi (leia-se peeesseye). Aliás, o que me chamou a atenção neste disco foi mesmo a capa, que gritava Stephen O'Malley. "Uma coisa em que o SOMA mete o dedo", pensei eu "não pode ser má... E por 2,50€ também não há muito que saber...". Pensei bem, porque a coisa não é nada má. Muito pelo contrário. Contudo, não é um disco para ouvir em qualquer ocasião. A fórmula ruídos sintéticos e/ou ambientais avulsos/silêncio/mais um bocadinho de ruído/vocalizações com uma camada de efeitos à la filme gore de série B, requer uma determinada predisposição para ser plenamente interiorizada.
Skullflower - "IIIrd Gatekeeper" (2007, Crucial Blast). Os Skullflower são uma das bandas seminais do noise de pendor monolítico. Quanto a isso julgo que estamos todos esclarecidos. Tal facto ganha especial relevância numa altura em que o nome sunn 0))) anda nas bocas do mundo - fica sempre bem conhecermos ou pouco da história por detrás de qualquer fenómeno, musical e não só, para não andarmos a fazer figuras alarves.
Diz-se por aí que este "IIIrd Gatekeeper", originalmente lançado em 1992 pela HeadDirt (editora fundada por Justin Broadrick), é um dos álbuns mais emblemáticos da banda. Eu, como não tenho ponto de comparação, não confirmo nem desminto. Apenas posso afirmar que, a julgar por esta amostra, os Skullflower são merecedores dignos do estatuto quase-divino que lhes é atribuído.
Diz-se ainda que, devido a esse mesmo estatuto e a tiragens reduzidíssimas, os primeiros discos da banda são muito difíceis de encontar. Quanto a isso, estas reedições recentes ajudam. O preço de 7,50€ também.
Todd - "Comes to Your House" (2005, Southern). Os Todd enquadram-se naquela categoria de bandas por mim denominada "carro de assalto sonoro". Aquela espécie particular de música que nos ataca quando pensamos que tudo irá correr bem, qual Wile E. Coyote a ser esborrachado por uma bigorna da Acme Corp, que nos dá um arraial de porrada auditivo e nos tritura ossos e entranhas, deixando-nos em KO técnico, de dentes quebrados, olhos negros e nariz a sangrar, mas com uma inevitável sensação de satisfação plena, tal foi a descarga de adrenalina e endorfinas. E é assim que eu gosto de uma boa porção da minha música: violenta para o tímpano, sem concessões e directa ao assunto.
Haja vontade de apanhar uma boa tareia sonora e mais álbuns da discografia dos Todd a este preço!
Witch - "Witch" (2006, Tee Pee). Já há algum tempo que andava a namorar este disco de estreia do projecto em que J. Mascis dá azo à sua faceta mais stoner nos usados da Carbono. Ainda bem que fui adiando a compra, uma vez que tive direito a um desconto adicional de 2,50€ aos costumeiros 10€.
Quanto a mim, este "Witch" é consideravelmente mais estimulante e pesadinho que "Paralyzed", o seu sucessor, que adquiri em idêntica situação. A ver vamos como se comportam no futuro, esperando que não se confirme a rota descendente.